quarta-feira, 22 de julho de 2009

ORALIDADE E ESCRITA perspectivas para o ensino da língua materna

A organização da fala e da escrita

Para se estudar a língua falada é preciso partir da conversação. A conversação ocorre quando duas ou mais pessoas interagem sobre diferentes temas. Schegloff caracteriza a conversação, apontando três elementos fundamentais: realização, interação e organização. Ventola propõe um modelo de organização conversacional, valorizando as seguintes variáveis: tópico ou assunto, tipo de situação, papéis dos participantes, modo e meio do discurso.
O tópico ou assunto é o que estabelece as relaçãoes, abre e mantém o canal de comunicação, proporcionando o contato dos participantes.
Na situação os participantes precisam estar atentos as atividades verbais e não-verbais, pois a situação em que se fala pode afetar a conversação.
Os papéis dos participantes vai se adequar as diferentes situações em que ele se encontra, assim pode-se desempenhar simultaneamente vários papéis.
O modo do discurso vai depender da formalidade que a ocasião exige.
O meio do dicurso consiste na forma como a mensagem é transmitida.
O texto conversacional é uma criação coletiva e se produz não só interacionalmente, mas também de forma organizada.
Segundo Dittman as características básicas do texto falado são:
interação entre pelo menos dois falantes - o desenvolvimento do texto falado está diretamente ligado ao modo como a atividade interacional se organiza entre os participantes;
ocorrência de pelo menos uma troca de falantes - está relacionada a alternância dos peresonagens da conversa, entre ouvinte e falante a fim de que a conversação tenha uma seqüência;
presença de uma seqüência de ações coordenadas - na conversação além da interação é necessário que haja uma organização na estrutura da conversação, uma seqüência lógica para que a conversa se desenvolva;
execução num determinado tempo - está relacionado ao tempo da conversação, e tudo que envolve esse tempo, os cortes nas falas, interrrupções, retomadas, sobreposições;
envolvimento numa interação centrada - a conversação deve estar focada em um assunto específico, podendo ocorrer dispersões.
A estruturação do texto falado se organiza em dois níveis o local e o global.
No nível local a conversação acontece por meio de turnos, neles os interlocutores se alternam e desenvolvem suas falas um depois do outro, podendo sobreposição nas falas e a tomada do turno do outro.
No nível global a formulação textual obdece algumas normas de organização global, principalmente na condução do tópico discursivo.Quando ocorre um desvio do tópico discursivo chamamos de digressão.

Coesão e coerência no texto falado

Ambos são fundamentais na constituição da textualidade. A coesão contribui para que se estabeleça coerência.
Destacam-se entre os recursos coesivos a coesão referencial que é uma referência a alguma coisa necessária para sua interpretação. Ela pode ser obtida por substituição ou reiteração. A coesão recorrencial que ocorre quando existem novas informações, embora haja retomada de estruturas, tem como objetivo levar o discurso adiante, a informação progride. A coesão seqüêncial que é a ordem lógica das coisas.
Existem na conversação quatro elementos básicos que são responsáveis pela organização:
o turno que é alternância do diálogo do falante e do ouvinte na consecução de um objetivo. Um modelo elaborado por Sacks, Schegloff & Jefferson diz que a conversação deve apresentar as seguintes propriedades: troca de falantes recorre ou pelo menos ocorre; em qualquer turno, fala um de cada vez; ocorrências com mais de um falante por vez são comuns, mais breves; a ordem dos turnos não é fixa; o número de participantes é variável; etc;
o tópico discursivo é aquilo acerca do que se fala. o seu desenvolvimento depende do processo de interação entre os participantes, do conhecimento partilhado, e das circunstâncias em que ocorre o diálogo.
O tópico discursivo apresenta as seguintes propriedade:
centração é o foco no conteúdo do tópico a ser desenvolvido;
organicidade é a relação seqüencial e hierárquica de cada tópico discursivo;
delimitação local é marcação do tópico por início, meio e fim ou os elementos prosódicos.
Os marcadores conversacionais têm como função a interação na fala evitando que a conversação se torne um monólogo. São utilizados na designação dos elementos verbais, prosódicos e não-lingüísticos.
Existe uma subdivisão dos marcadores verbais em quatro grupos:
marcador simples que realiza-se com uma palavra;
marcador composto que apresenta-se como uma seqüência de elementos lingüísticos relacionados com tendência a se fixar;
marcador oracional que são pequenas orações em diferentes tempos e formas verbais;
marcador prosódico está agregado ao marcador verbal, mas utiliza recursos prosódicos, está nesse grupo a entonação, a pausa, a hesitação, o tom de voz, etc.
O par adjacente é constituído por uma unidade dialógica mínima, o que quer dizer que a pergunta escolhe a resposta e a resposta é a ação escolhida pela pergunta. É utilizado pelos interlocutores para dar prosseguimento ao tópico.
Os pares adjacentes podem ser utilizados:
na introdução do tópico é comum que utilizem, ou quando se iniciam novos supertópicos;
na continuidade do tópico também são utilizados;
no redirecionamento do tópico quando há um desvio do tópico, utiliza-se para que se retome o mesmo;
na mudança de tópico por ter se esgotado o assunto ou não querer mais falar sobre ele utiliza-se o par adjacente.